Anatomia de Um Encontro

Falta uma hora.
A expectativa toma minha mente.
Pensamentos sobre: “como ela irá estar vestida”; “quais os assuntos serão abordados”; como será nosso encontro” se fazem muito presentes.
A ansiedade começa querer dar o ar da graça.
O corpo reage com o mover das mãos e das pernas.

A hora chega.
Lá estou no local combinado, sentado a esperar a pessoa que faz com que sorrisos espontâneos em mim apareçam apenas pelo lembrar de sua pessoa.
Os olhos ficam circulando entre a tela do smartphone e ao espaço ao meu redor.
Por maior que seja o número de pessoas presentes no ambiente, apenas a presença de uma é que me importa e fará minha angústia cessar.

Ela chega.
De maneira ligeira procuro observar o máximo de detalhes possíveis em seu corpo.
Cabelo, maquiagem, roupa, sapato.
Como é possível haver tanta beleza em um corpo só?
Sinto o aroma de seu perfume invadir minhas narinas
Aprecio por alguns segundos o calor de sua pele enquanto nos abraçamos
Nos cumprimentamos; nos sentamos, e enfim, começamos o tão desejado encontro.

Uma hora se passa.
Quantas coisas ocorrem em uma semana?
Como o contato virtual não é capaz de suprir o contato pessoal; olho no olho?
Como é bom poder ouvir quem tanto se ama falar do dia-a-dia.
O banal se torna importante.
O sério se torna urgente.
Não importa o fato, cada detalhe se faz necessário de ser ouvido.
Tudo o que se quer é ver e ouvir a pessoa amada usar sua voz para proferir tudo aquilo que lhe interessa falar.

Duas horas se passam.
A troca de palavras e frases, risos e silêncios, me faz refletir sobre como uma pessoa, e apenas uma pessoa, consegue gerar um turbilhão de sentimentos.
Me sinto a vontade a expor quem sou, a falar aquilo que gosto, a ouvir críticas, me sinto eu mesmo, um ser humano único.
Sei que ela se sente assim também, e nessa simbiose, nossos corpos se unem, nossos lábios se tocam, nossas mentes, de alguma forma, se juntam.
Eu sou dela, ela é minha.
E não há ser humano algum que queira tanto comigo quanto ela.
Ela é o oásis do meu coração, onde o deserto da solitude e das desgraças, por algum tempo, se tornam realidades longínquas.

Três horas se passam.
Hora da despedida.
Levo-a até sua casa.
Momento de, pela última vez na semana, admirá-la com meus olhos e ouvi-la com meus ouvidos.
Momento de desfrutar do sabor de seus lábios e do aroma de seu perfume antes da saudade entrar em cena.
Tudo o que queria era voltar no começo do encontro e desfrutar uma vez mais da companhia, do ser dela. Poder ouvir as mesmíssimas coisas que ela dissera, como se fosse pela primeira vez.

Chego em casa.
Olho sua foto pela tela do smartphone.
Lembro de quando a vi chegar, dos abraços, dos beijos e das conversas.
Sinto uma vontade enorme de chegar a semana que vem para, mais uma vez, repetir (ainda que parcialmente) o ritual de encontra-la pessoalmente, e viver o privilégio de compartilhar a existência e o coração com aquele monumento de mulher.
Após algumas mensagens, vou me deitar com meu corpo na cama, mas com meu coração e mente no quarto dela
A certeza de que meu viver ganhou mais um sentido
De que a Primavera adentrou no minha vida
Que o sol finalmente levou seus raios sobre mim
Me faz rir alegremente sozinho
Lembrando dos bons momentos vividos, e aguardando aqueles que hão de vir com o passar dos dias.
Por causa dela, felicidade virou meu sobrenome.
Amar se tornou um verbo conjugável
E encontros não se tornaram eventos distantes realizados por terceiros,
Antes, realidades que me inspiram a tal ponto que me tornam capaz de exprimi-los em forma de texto.