DESCARTE DA NATUREZA

                                                                         DESCARTE DA NATUREZA
 
Zanna Santos
 
 
 
 
Eu sou aquele menino de rua!
Aquele cujos olhos ninguém fitou
E a lágrima igualmente não se aparou!
 
Pedro? João? Carmelo? ...
Qual a diferença nesse inferno
Se de mendigo me chamou
Se emporcalhou-me na lama
Para comer do sobejo que ficou...
 
Eu só queria a tua maldita moeda
De tuas mãos abertas
Porem para me esbofetear você as usou.
 
Eu só queria a tua maldita atenção
Que me lançasse um ar de compaixão
Porem o teu desprezo foi quem me abraçou.
 
Eu só queria o teu maldito sorriso
Me mostrando, nessa vida, um sentido
Porem a tua repulsa, a esperança de mim, desviou.
 
Eu só queria um pouco de calor humano
Para que de mim ardesse de novo a chama
Porem a tua frieza por fora e por dentro me congelou.
 
Para um pouco e pense;
Dai-me um segundo apenas
Quem sabe você lembra de quantos sim me negou.
 
Mais um tingido de vermelho
Mais um andarilho,
Sem teto, sem carinho;
Mais um descarte da natureza...
Mais um ser sozinho...
 
Você não percebeu o meu brado
Nem a lamúria alcançou teu coração;
Era de paz a minha sede,
Era de amor a minha fome...
 
Segue teu caminho, desvia de mim o teu olhar
De ti não mais precisa
Este corpo sem vida no asfalto!
 

Zanna Santos
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