Pássaro mudo

Um sonho de amor faz despertar,  feito o pássaro que sai do  seu ninho, vai mesmo sabendo que nunca irá chegar, a ave em suas asas esconde o longo voo  que quis fazer sem jamais o realizar,  a triste ave calada, com as asas já cansadas, deseja, porém, bem maior que o desejo  de seguir sonhando,  é o de esconder-se de um mundo desigual,  onde algo irreal é esse jeito de amar. Olha o céu e triste procura o seu amor, recolhe-se sem poder encontrar. Num céu sem fim, o fim dos sonhos no seu mundo interior,  mundo encantado... nesse despertar sem encanto e sem cor, somente resta uma não contada história  de um amor. Pássaro mudo já não respira, ainda assim uma leveza no ar do dia, em vão aspira  o que não há, e o que por dentro tenta recuperar, mas se perdeu e não quer mais se encontrar.

Sem o encontro,  voa triste essa ave sem alma, nos seus voos sem graça,  acena triste para a alegria distante,  consciente que para mais longe se foi. Voar ainda lhe resta? _ Quem sabe na paisagem, ou no tempo, possa reencontrar num fiasco de lua,  a alegria, que nos sonhos sentia, ou no  jeito de viver que tecia, sem uma vida para depois. Um olhar sobrevoa  o branco campo de algodão, sobe às nuvens que ao fim no firmamento vão se confundindo. Pensa na paz  do encontro do azul do mar, e no brilho do sol surgindo. 

Não há mais flores vermelhas, amarelas, azuis, pensa, também no mundo da sua imaginação e naquelas fantasias mais loucas que iam surgindo, e no seu castelo, que erguia. Restos de tecidos sem cor, retalhos de um  amor que a vida não lhe deu,  sem dar o devido  tempo para fazer o cobertor,  ao relento exposto ao frio ou ao calor  são sempre desenganos tão iguais! Viver é um resto de tempo, e de sonhos mortos, tolos, ocos, enquanto bailam os ventos sobre este e outros quintais.

Liduina do Nascimento

Liduina do Nascimento
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