Pessoas são cascas, fadadas, condenadas, esmagadas, em castas
Seladas por pacto de sangue e atitudes nefastas, já basta!
Viva a transmutação de ouro em chumbo grosso!
Chegou a Kali Yuga, Californicação, então, cale-se!
Procissão de almas penadas cada vez mais presas em seus corpos.
Busco na multidão um outro corpo, não mais aguento o meu
São minhas vontades animais, enquanto minha alma se distrai
Olhar abusado em fogo fita o fluido vital que em vão se esvai
Lâminas esculpem-me um sorriso, mas eu sei que não preciso
Condeno à morte o enfermiço, mas também sou parte disso
Só sei que nada sei, den eída óti oúden eída
Quantas vezes já falei, ninguém me ouviu ainda
Em Malkhuth, na Terra, canoniza-se a morte em vida
Felicidade já se acabou junto ao último copo de bebida
Não peço desculpas, o que é isso? Sua liberdade me cerceará!
Lobisomem, lupus homini, lupus omnium
Sóbrio, sombras, do ódio ao opium
Caçador de mim, de todos, de tudo
Nos meus labirintos cruzo desnudo com o desejo crudo
Cruzes! Crises em passos largos, crases e erros crassos
Caço em minhas entranhas e em faces estranhas o que há de ser (m)eu
Eterno retorno, interno transtorno, não mais sinto meu corpo
Óbito da alma, hábito da carne, assim ele estive
Inverno nuclear em meu ser que ainda vive
Terra arrasada, cinzenta, sincera e vazia
Seus lábios amargos e gélidos fazem me companhia
Fluidos francos se fundem, sem sentir, sem sentido
Na despedida, desprendido, nos grilhões do existir
Licantropo, misantropo destinado a vaguear
Pela noite, as incertezas, as lembranças, fantasias a uivar
Refletindo, à luz da lua, se algum dia findará
Indagando ao universo ‘'a mim que fim dará?’’
Essa casca amargurada aprisionada num mausoléu
Relembrando como pôde aquele jovem esta besta se tornar
Na fria noite, meus antigos demônios logo se põem a gargalhar
Essa fera está faminta, odiosa, ensandecida em ira
Quer o teu sangue, corpo, alma, tua tormenta e tortura
É o preço que tu pagas por causar-lhe tantas chagas
Que desfiguraram o meu bom e velho ser
Um leal amigo, visionário desiludido
Expatriado hedonista, insano primitivo caçador
Eu já fui o que tu és, tu serás o que eu sou, leitor
© Todos os direitos reservados