Autobiografia

O místico é um sentidor
Sente tão completamente
Que chega a parecer dor
O êxtase que deveras sente

E os que vêem o que sente,
Duvidam que pode ser um bem,
Não os prazeres que ele teve,
Mas só as dores que tem

E assim, nos giros da roda
Gira, a dominar a razão,
Esse redemoinho de vida
Que é a alegria do coração

Este poema é minha versão do poema de mesmo título, escrito por Fernando Pessoa.

Aqui está a versão original do Fernando Pessoa:

Autobiografia

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as dores que ele teve,
Mas só a que ele não tem

E assim, nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda,
Que se chama coração

Ilustração: Mystic Spheres de Rafael do Canto Queiroz (http://tinyurl.com/25wymw)

Brasília, Domingo, Abril 22, 2007