Você já teve esta sensação
(Esta estranha sensação)
De que a noite não vai acabar?
A madrugada se funde ao seu peito,
E os sonhos, rarefeitos,
Flutuando na amplidão,
Vão parar em outro lugar... ?

Nas ruas, cães insensíveis
Vão latindo seus protestos
A fantasmas invisíveis,
Que redesenham seus gestos
No espaço, no céu e no chão...
Tudo - pedaço de versos:
Seu coração - solidão,
Na louca palpitação
De mil poemas incompletos.

Só há vestígios de vida
No fundo do inconsciente:
Criações da sua mente
No caos da penumbra infinda!
E, onde só havia certeza,
Agora, sombrio e doente,
Vaga o espírito da Natureza...
(E até de si mesmo duvida...)

Se ouvisse um pensamento,
Seria o eco do vento...
Se houvesse um sentimento,
Sei que ele seria triste;
Mas tudo é um tumbal lamento,
Um débil contentamento
De um mundo que não existe.

Preso na minha canção,
Sinto que o tempo não passa...
(E quem disse que passaria? ...)
A morte, o amor e a agonia,
Vendo tanta indisposição,
Rejeitam minha poesia:
Sobra só o verso sem-graça,
E esse tempo que não passa...

Onde termina o sem-fim?
Quando termina essa noite
Que cresceu dentro de mim?
Você já se sentiu assim?
Seu mundinho congelou?
E você, sozinho no escuro,
Desistiu de esperar o futuro,
Sentou na calçada e chorou?

Você já estremeceu
Pensando, por um momento,
Que não haveria mais tempo?

E não há.
Amanheceu.

Dedicada a um Amigo: o Alvorecer da Libertação (The Dawn of Deliverance)...

Fim de noite em São Paulo