Noite. Já vai madrugada,
perfil de mulher.
As pálpebras se cerram
em movimento felino.
O cérebro exausto
recebe consolo do coração.
Fechado para o mundo,
ganho olhos de ver.
Minha imaginação
se abstrai em voo errante.
Assombram-se ares feminis,
invadem os sentidos.
O toque... um suave perfume...
e a memória se aviva.
Desenho um sorriso maroto nos lábios.
Pressinto que um olhar
me vigia e me guarda.
São olhos a brilhar
como que preciosas jóias.
São olhos que me chamam,
que em silêncio pronunciam o meu nome.
Presença oculta,
musa de verso ainda por surgir.
Anda pelas trilhas do coração
e canta uma cantiga,
e murmura uma poesia.
É liberta, é posseira,
está porque quer estar.
Oculta-se em seu manto de cabelo.
É seu adorno. Mas é ela mesma
seu maior adorno.
É bela, e ponto.
Nada acresce, nada diminui.
Pintura viva, escultura com alma,
espírito para as letras.
Comunga os músculos da paixão
com as virtudes altivas da alma
para transcender em encanto.
Para bater à porta, entrar mansa
e fazer morada no coração.
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