Oh meu amor, donde estás que não vejo?
Em que mundo, em que astro alcova o beijo,
- Por qual eu grito?
Desde a luz da lua até o candor d’aurora,
De meus áureos tempos e após o agora,
- Ainda sinto!
 
Qual viajante de paradeiro incerto,
Marujo ao mar e também no deserto,
- Viajei por ti!
Castigante sol por sobre o areal,
E no branco inverno co’aurora boreal,
- Sucumbi!
 
Lembrança. Única sombra que permanece,
Nos átrios do peito, que não te esquece,
- Delirante!
Morada sóbria que ao alvor arqueja,
Florete amargo no pulsar dardeja,
- O amante!
 
Não quero o solo da terra ingrata,
Nem mesmo os campos da formosa Esparta,
- Onde te amei!
Nem mesmo os sóis do calor maldito,
Ruínas dos templos do antigo Egito,
- Donde aportei!
 
Folhas ao vento do bonsai cipreste,
Indochina e o grande Everest,
- No Oriente!
Flâmula do sol em um reino antigo,
Cidade proibida e o rei menino,
- Imponente!
 
Nem a Catedral, no badalar do sino,
Nem os cantos chorosos do beduíno,
- Me comovem!
Ruínas esparsas, cidades antigas,
Calor infernal nas dunas rijas,
- Que movem!
 
Como você, num trilhar calado,
Viaja nas brumas e no medo alado,
- Foges de mim!
Nem mesmo a selva e a infinita Savana,
No charco úmido e na atroz caravana,
- S’escondem assim!
 
Não mais suporto. Sucumbi como ele em Canaã.
Às portas do Céu, no sufocante afã,
- Foi-me a vida!
E o aroma, o toque na grinalda pura,
O beijo último da boca que procura,
- Minha Ilíada!

Betofelix
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