E SE HOMO

Pai, e se homo eu for, você vai ser o meu defensor?
Mãe, e se homo eu for, você vai negar o seu amor?
Deus, e se homo eu for, deixas de ser meu senhor?
Família, e se homo eu for, sozinho não terei valor?
Sociedade, e se homo eu for, vai ser meu opressor?
Amigo, e se homo eu for, vai me considerar traidor?
Patrão, e se homo eu for, vai me ver como amador?
Homens, e se homo eu for, vão metralhar no terror?
Meu ego, e se homo eu for, vou me achar inferior?
Existência, e se homo eu for, vou sentir tanta dor?
Vida, e se homo eu for, vou morrer como malfeitor?
Morte, e se homo eu for, vou viver como impostor?

Eis o homem, vocês decidem por esse transgressor?


Qual foi seu pecado, escolher seu mais íntimo pudor?


Por que se esconder daquilo que faz dele seu autor?


Em verdade todo ser humano é um exímio falsificador.

Marco Antônio Abreu Florentino

Poema que faz homenagem às vítimas de mais um massacre absurdo e inominável ocorrido no país que mais se aproxima da melhor e mais adequada forma de viver em sociedade, os Estados Unidos da América. Dessa vez atingindo, no máximo da intolerância, os gays, pessoas inofensivas e que tanto pregam o amor entre os homens. Parece que a humanidade está regredindo para o período das trevas, onde a razão, a paz e o amor são esquecidos em detrimento do ódio, da intolerância e do egoísmo, características predominantes do ser humano.

NOTA: Este poema faz um trocadilho com Ecce Homo (eis o homem), frase dita por Pôncio Pilatos no julgamento de Jesus Cristo. Inspirado também numa das últimas obras de Friedrich Nietzsche, a qual afirma como a gente se torna o que a gente é... a mais poética e a mais grandiosa dentre as obras dedicadas ao egocentrismo humano, é também a mais singular das autobiografias que o mundo um dia conheceu.

 

 

 

 

Marco Antônio Abreu Florentino
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