Era ela. O sonho dela. O sono dela, o riso cada vez mais nítido o riso dela.
Era ela.
O tráfego era ela. O caminho era ela. O desejo por uma nova solução, a solução dela. A infância dela.
Todos queriam um beijo e a boca pertencia a ela.
Um pensamento não pensado, uma estrela a iluminar o caminho dela. Tudo ela.
E foi ela e ele. No princípio ele por ela. Ela por ele. Um par perfeito, um dueto invejado, plagiado, amantes, sorrisos e abraços. O braço dele nela e o braço dela nele.
Eram eles. Os sonhos deles. Deles o sono. O sorriso grandioso, grandioso riso deles.
E cada vez mais ele que ela e ela cansando dele. O medo de perdê-lo. O medo de não tê-lo sem saber que a ele já não tinha.
Já não era nem ela nem ele.
O dia dela?
O dia dele?
A mãe dela? O pai dele.
O dinheiro dele separado do dinheiro dela. A família dele no natal deles e a dela numa eventual celebração sem ela.
Cada vez menos eles. Ela esquecia-se dos sonhos. Os sonhos dela. Ele ignorando o que vinha daquela boca, o beijo dela, os risos, a voz suave e rouca, de seu coração os sonhos que antes tinha “os sonhos que ora eram ela e ele, dela e dele”.
E foi ela pela rua. E foi o trânsito. Foi a curva. Foi o carro. Foi bolsa de um lado. Foi ela de outro. Foram graves feridas e foi muito triste a morte dela.
O sonho dela?
Onde está ele?
O riso dela: parca lembrança no passado dele.