A poesia gratuita tem o intuito de engolir o leitor
morder seu espírito
devorar sua alma.
 
A poesia gratuita não quer estar em todos os lugares.
A poesia gratuita é o lugar em que está.
 
Há pessoas que morrem por amor
e morrem de amor.
 
Há pessoas que morrem
pessoas que matam
pessoas que matam e morrem.
 
A poesia gratuita não é feita de amor.
Por amor é feita e quer reinventar as pessoas.
Por amor se entrega e quer desmontar as certezas.
 
É bela e feia a poesia gratuita
(estamos livres nos espaços vazios entre os versos
no auge da fugacidade
no meio do caos escorrem-me lágrimas).
 
A poesia gratuita é gratuita e arbitrária.
Sou eu do avesso.
São as veias do mundo expostas.
 
É tempo de amar o que o mar traz à praia
amar o medo, o asco, o leito pleno de estrelas, a fúria, os rastros.
Gente da minha laia – que não temem a poesia.
Gente que foge dos argumentos dos poetas.
Gente que não é gente – mas tenta.
 
Toda poesia é feita por loucos e entregue a insanos.
A poesia gratuita nos persegue, nos tortura, nos adensa.
Mostra-nos a vida sendo composta em seu gene.
 
Passam-se os anos
A poesia está viva
Nem que os poemas queimem.
Nem que a razão nos destrua.
Nem que o caos em nós reine.

Mauro Marcel
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