Ébrio por uma razão
Que não tem razão,
E que em busca da razão
Perde a razão...
 
Ébrio que se põe a desabafar
Em copos de água ardente a gargalhar,
Procurando quimérica fuga a agarrar
Com um dolente e lacrimoso olhar...
 
Ébrio que consciente se destrói,
Traz por dentro um coração que dói
Tem na alma o vício que corrói,
E outras lágrimas, que tristemente constrói...
 
Ébrio que possui uma estória,
Deixa de ser sério e chora
Mistura risos medonhos e ancora
Suas mágoas, em sua alma que aflora...
 
Ébrio que cambaleia pela rua
Sem saber aonde ir e continua
A traçar um caminho de desilusão nua,
Tendo como companheira a clorótica lua...
 
Ébrio por apenas ser solitário,
Ou apenas um completo otário,
Ou ser simplesmente um palhaço viciado
Vivendo no meio da multidão abandonado...
 
Ébrio que traz um sorriso triste no rosto,
Um aberto olhar cego, profundo desgosto,
Bituca de um cigarro, com horrível gosto,
Imagem de um ser decomposto...
 
Ébrio que se entrega no delírio pungente da dor,
E em cada gole, utópica felicidade em negra cor
Tinge qualquer chance para a luz do amor,
Por ser um ébrio, ébrio somente na sua dor...

Nivaldo Ferreira
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